Sorriso
“A um metro de distância. Infinitamente distante.”
-Deixa Ela Entrar
Sinto-te, mas não te vejo
quer-te mais não consigo
possui-te
usar-te
usufruís-te.
Acordei com a luz do sol batendo em minha face. Quem deixou a cortina aberta? Essa claridade é maior que o normal.
Despertei um pouco cansado com uma forte dor na cabeça.
Olhei ao redor, tudo está diferente. A parede, o piso, a janela, tudo. Percebi em meus braços, vários tubos e aparelhos conectados a eles. Ahh, estou em um hospital.
Por quê?
Algumas horas depois que acordei, uma enfermeira entrou em meu quarto. Assim que me viu desperto, ela chamou o médico responsável por mim. Ele me explicou que sofri um acidente e bati a cabeça, por isso, fiquei em como por alguns dias.
Antes de saírem, disseram para eu descansar. Fiquei só por muito tempo. Depois a comida chegou e assim fiquei só novamente.
Após longas horas, a porta finalmente voltou a abrir, porém, uma rapaz que eu nunca tinha visto antes entrou. Ele era alto e de cabelos e olhos castanhos. Olhos puxados como um de um gato que o faziam ter um olhar sedutor.
“Quem é você?” Perguntei.
O garoto abriu um olhar de surpresa.
“Você não se lembra de mim?” Se eu soubesse quem é você eu não perguntaria. Pensei, no entanto, nunca disse. Ao invés disso só acenei com a cabeça.
“Nossa, isso é chocante.”
“Desculpe mesmo, eu também gostaria de lembrar.”
“Tudo bem. Sou Mike, sou o seu melhor amigo, ex-melhor amigo.” Ele disse com um sorriso. Seu sorriso era gracioso, porém, havia algo de estranho nele. Ele estava demasiadamente para cima, como se algo o estivesse o levantando. Era estranho, mas decidi ignorar.
:)
Mike era realmente o meu melhor amigo, ou fingia muito bem ser. Ele sabia muitas coisas sobre mim, até mesmo coisas que eu não me lembrava. Esses últimos eu não tinha como ter certeza se eram verdadeiros, porém, ele mostrava provas. Um dia ele chegou até mostrar fotos de nós dois juntos. Desde crianças até a adolescência, uma dessas fotos foi tirada três dias antes do meu acidente. As fotos de quando éramos crianças eram as melhores, em todas tínhamos sorrisos de longe verdadeiros. Já na adolescência o meu sorriso foi se perdendo aos poucos, no entretanto o sorriso do Mike permanecia o mesmo, aquele sorriso do primeiro dia que ele veio aqui. Na foto mais recente, a história muda, ambos estamos com sorrisos, porém, era como se nossos sorrisos estivessem trocados.
:)
Quando Mike vinha me visitar, fazíamos várias coisas, conversamos, jogamos jogos, ou fazíamos qualquer outra coisa que o hospital permitisse.
Depois de um tempo finalmente saí daquele hospital. Pensava que assim que saísse, eu iria logo para casa, porém, isso nunca aconteceu. Ao invés de ir para o meu lar, fui para um lugar diferente. Um internato? Outro hospital? Para um abrigo? Eu não sei e ninguém nunca me falou, mesmo que eu perguntasse. O povo de lá era estranho, cada um no seu quarto, mas eles nunca falavam, porém, qualquer um que olhasse para eles veriam que eles estavam felizes com largos sorrisos no rosto. Gosto de sorrisos.
Mike continuava me visitando, fazíamos a mesma coisa que fazíamos naquele hospital, porém, agora não podíamos sair do meu quarto, os trabalhadores não deixavam, eles só me traziam comidas.
Uma vez perguntei para Mike o que era esse lugar. Ele disse que não sabia ao certo, só sabia ser um lugar para pessoas felizes, e eu era uma pessoa feliz, olha o meu sorriso. Comecei a sorrir mais desde que fiquei por muito tempo com Mike, ele era a minha única companhia, nem mesmo a minha família eu via, eles deviam estar muito ocupados.
Uma vez estávamos jogando dama, Mike não era muito bom e não sabia todas as regras, então disse que ia ajudá-lo. Estávamos jogando quando comi três peças dele de um só vez.
“Isso pode acontecer?” Ele perguntou intrigado.
“Claro.” Respondi.
“Por que você nunca me disse?” Ele falou irritado.
"Desculpe, não me toquei.”
“Isso não se pode, não pode fazer isso com um amigo.” Não entendi o porquê dele ficar tão irritado, aquilo era só um jogo.
“Não se pode fazer isso com um amigo.” Mike se levantou rapidamente e saiu batendo a porta da habitação com força.
Depois desse ocorrido Mike nunca mais voltou.
Ainda espero ele voltar, sempre pergunto para as pessoas que trabalham aqui a hora de visitação e pergunto se alguém ele virá, só que eles nunca me respondem.
Agora, estou só novamente.
:)
Bem, por onde começo esse relatório?
Sou Domi, a psiquiatra encarregada do paciente Jess Laker é um paciente diagnosticado com esquizofrenia e outros problemas. Desde aquele ocorrido onde matou o seu melhor amigo, por raiva já que ele não correspondia aos seus interesses românticos. Jess matou Mike, mas no processo acabou batendo a cabeça e fazendo-o perder alguns fragmentos de sua memória. Desde que ele entrou no hospício, todos os enfermeiros encarregados por ele falam que ele fala frequentemente sozinho e pergunta se o seu amigo morto vai voltar a visitá-lo. Porém, ninguém nunca o visitou, nem os vivos, nem os mortos, a sua família não quis contato com ele desde o ocorrido. Bem, penso que Jess acredita que recebe ou recebia visitas de seu ex melhor amigo morto.
Nota do autor: mesmo que de forma distorcida, assim como a maioria das minhas histórias, fala sobre amor não correspondido.
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