Melhores amigos
Há uma semana eu não tenho conseguido dormir. Se “aquilo” me delatar para alguém a minha vida está acabada.
Comecei a ver aquilo desde do incidente. Aquele rosto borrado que por mais que eu tente não consigo lembrar como era. Todas as minhas memórias com aquilo foram trocadas por aquele borrão.
Há um mês decidi uma coisa que mudou a minha vida e, só o demônio sabe como eu me arrependo.
Depois de muito tempo guardando um sentimento no fundo do meu coração, decidi liberá-lo. Resolvi contar para o meu melhor amigo o amor que eu sentia por ele. Crescemos juntos e éramos tão próximos como irmãos, só que eu o via como algo muito mais do que um irmão, muito além disso. Eu o amava ao ponto de eu querer construir um futuro ao seu lado e, se no futuro ele não estivesse comigo, não existiria futuro para mim.
Eu estava realmente decidido, só que havia um problema, eu tinha tomado a decisão tarde demais, ele já tinha uma namorada. Ela era uma linda garota a qual ele amava profundamente, tanto que talvez os seus sentimentos se comparassem aos meus.
Porém, decidi ir na vibe do ditado popular, “antes tarde do que nunca”. Eu precisava falar o que eu sentia e tirar esse peso do meu coração. Não aguentava mais guardá-los. Mesmo sabendo que eu seria rejeitado resolvi contar, aliás, a esperança é a última que morre; mas morre.
Era uma tarde de terça como qualquer outra, como na maioria dos dias depois da escola ele vinha para a minha casa para jogarmos vídeo game. Como a minha mãe trabalhava até tarde da noite, estávamos só nós dois em casa, perfeito!
“Em que você está pensando?" Ruan perguntou, assim me tirando dos pensamentos.
“E-Em nada.” falei,
“Tem certeza?” Ele disse aproximando-se mais do meu rosto ao ponto que faltaria mais um movimento de qualquer um de nós, para que os nossos narizes se encontrassem. Fiquei levemente corado e, ao ver minha reação, Ruan abriu um leve sorriso.
“Ruan.. e-eu gosto de você.” declarei. ]
“Eu também gosto de você cara, tu és o meu melhor amigo.
Fiquei com uma leve raiva, ele não havia entendido a minha declaração feita com tanto pavor e terror.
“E-Eu não estou falando isso, eu te amo! Como você ama a Alice.”
Ele se aproximou mais de mim e me deu um beijo, rápido, porém, selvagem, então se separando alguns centímetros do meu rosto e olhando fixamente nos meus olhos ele disse.
“Desse jeito?”
A partir daquele dia, toda vez que ele ia para casa nós nos beijamos.
Toda vez que ele me beijava parecia que ele estava desesperado, e me beijava ao ponto de fazer os meus lábios sangrarem, mas isso não era amor. Todas as vezes que ele beijava Alice, ele a beijava com calma e paixão, para qualquer um que os fizessem, se beijando diria que eles exalavam o amor. Comigo, diferia, não era uma paixão ardente, era apenas luxúria, sem amor, sem carinho, sem o mínimo.
"Posso te fazer uma pergunta?” perguntei para Ruan enquanto fumávamos cigarro na minha casa, depois de outra hora de longos beijos.
“Claro”
"Você me ama?”
“Claro! Você é o meu melhor amigo.” ele disse abrindo um sorriso sedutor.
“Melhores amigos não se beijam!” Exclamei. Rapidamente me levantei do lugar, e Ruan se levantou logo atrás de mim.
“Mas nós sim, e somos melhores amigos.”
“Deixa eu reformular a pergunta. Você me ama como ama a Alice.”
“Cara, dá para parar? Eu não sou gay”
“Se para você o que fazemos não é gay, eu não sei o que é”
Paft!
Ruan me deu um tapa, que me fez cair para trás.
Fiquei com muita raiva. É assim que ele me trata os meus sentimentos? Após anos de amizade era assim que ele me agradecia? Não esperava que ele correspondesse aos meus sentimentos, porém, pelo menos ele poderia ter um pouco mais de empatia, não me tratando como seu eu fosse um estranho.
Mesmo no chão olhei para ele, e vi seus lindos olhos escuros como a noite me olhando com desprezo.
Aquilo foi a gota d’água.
Com o ódio que me consumia, rapidamente levantei-me e o empurrei de volta. Só que não percebi que logo atrás dele estava a janela que estava aberta. Por alguns segundos, Ruan não estava mais no meu campo de visão. Fiquei em choque por alguns segundos e não quis olhar pela janela. Mas ele ainda poderia estar vivo e procurando ajuda e, se estivesse, o faria para e daria um fim nele.
Desci rapidamente e fui ao quintal, lá vi o seu corpo na grama, na região da cabeça havia uma grande poça de sangue, e reparei que o seu crânio tinha caído em cima de uma das várias pedras que havia no jardim. Peguei em seu pulso, sem sinal. Eu precisava me livrar do defunto o mais rápido o possível. Peguei uma pá e comecei a esmagar o seu rosto para, e livrar a raiva que me restava, depois esquartejei o corpo e enterrei no local que estavam construindo um lugar para fazermos churrasco.
Depois de alguns dias de seu desaparecimento, a polícia veio me procurar, já que eu era a última pessoa que tinha o visto com vida. Falei que depois de vir aqui em casa ele tinha partido para outro lugar. O celular do Ruan havia descarregado enquanto ainda estávamos na escola. Sem um corpo ou uma confissão, a polícia não podia me prender.
A polícia me fez várias perguntas, entretanto, ainda não acharam o corpo, pois ele está na minha frente me encarando.
Seu rosto deformado, que o semblante já não me recordo, do que um dia chamei de melhor amigo. Agora, no fundo, de minhas memórias só vejo um barram, machado pelo ódio.
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